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Nos mapas, o vale era chamado San Espera, embora ninguém soubesse quem fora Espera. As pessoas brincavam que a cidade estava à espera da chuva, da sorte, de um milagre. As montanhas seguravam um rio em seus dedos tortos e o deixavam passar pelo vale em uma linha azul fina, e na extremidade norte um homem chamado Barão Varro havia construído uma grande barragem de pedra com dentes de aço que se abriam e fechavam. Ele vendia água como se vende tecido por metro, e, ultimamente, estava vendendo menos e cobrando mais. No verão em que os problemas de verdade começaram, o ar parecia um forno de pão. As folhas se enrolavam sobre si mesmas, o barro à beira do rio rachou como um mosaico, e pequenas discussões viraram grandes. Cercas ficaram mais altas, portas se fecharam mais cedo. As pessoas queriam um herói com um cavalo feroz e voz estrondosa. Em vez disso, tinham Luan. Luan era um sapateiro cuja perna direita era mais curta que a esquerda. Usava um pequeno calço numa das botas para não ficar torto quando se punha à bancada. Guardava todo tipo de coisas estranhas em potes pregos de tamanhos impossíveis, linhas de cores improváveis, pedaços de borracha que cortava de pneus velhos. Era o tipo de pessoa que repara em coisas que os outros deixam passar o arranhão minúsculo no seu sapato que significa que seu passo mudou, ou a maneira como o vento da tarde sempre vinha primeiro do pomar, cheirando vagamente a maçãs. Quando os homens do Barão Varro entraram na cidade e pregaram um aviso no quadro de recados Com efeito imediato aumento nas tarifas de água. Desvio não autorizado é punível com confisco, as pessoas se reuniram para reclamar. "Ele está nos estrangulando", murmurou o padeiro. "Que sinta o que é sede. " O ferreiro arregaçou as mangas. "Vamos cortar a barragem e pronto. "Luan largou o furador.
Luan E A Escola Da Água Um Herói Bondoso Do Vale De San Espera - 1
"Se você arrebenta uma barragem, toda a água sai de uma vez", disse ele, sem maldade. "Corre solta e depois se vai. Se houver um furo em outro lugar, um pequeno que desperdice mais devagar, vocês não querem achá lo?""Luan," suspirou o ferreiro, "você conserta sapatos. Fique na sua. "Mas Luan já tinha notado a maneira desesperada com que até os mais barulhentos engoliam seco quando diziam a palavra água. Ele saiu e sentiu o ar. Era o tipo de manhã que te cobre com calor como quem puxa um cobertor. Pegou um pedaço de linha de seda e amarrou de um lado ao outro do beco, depois pendurou uma fila de cápsulas de bolota oculta por baixo. As crianças se reuniram, curiosas. "O que é isso?" uma perguntou. "É uma rede para apanhar o invisível", disse Luan. "Quando a noite vier, o ar vai esfriar. Minúsculas gotas se formarão, como o vapor no vidro. A linha vai ajudá las a se juntar, e elas cairão nas tigelinhas. Isso se chama orvalho. "As crianças riram. "Não se bebe coisa invisível. ""Só se você for orgulhoso demais para trazer um copo", disse Luan, sorrindo. Naquela noite, Luan fez mais experimentos um pote de barro enterrado até os ombros no jardim para infiltrar água devagar, uma lona esticada em estacas para ver como a névoa faria bolhas sobre ela, pequenas valetas que cavou ao longo do contorno da colina atrás da escola, curvando se como sorrisos. Ele desenhou pequenas setas na terra.
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"A água não gosta de apressar", disse às duas meninas que ficaram para ajudar. "Você pode pedir para ela andar com você. Essas valetas se chamam swales. Elas dizem à água Devagar. Fica um pouco aqui. Vai para o solo. "Pela manhã, o orvalho brilhava na linha como um cordão de pérolas minúsculas, e cada cápsula de bolota segurava algumas gotas claras. Não era muito, mas era água onde não havia havido nada no dia anterior. As meninas juntaram as gotas nas mãos e as tocaram à língua, sérias como cientistas. "Frio", uma relatou. "Tem gosto de céu", disse a outra. A notícia se espalha de forma diferente quando vem carregada de risadas surpresas. No fim da semana, Luan tinha um bando de crianças puxando redes velhas do armazém e esticando as nas encostas para fazer apanhadores de névoa. As mulheres que costuravam adicionaram bainhas de linhas de sobra para ajudar as gotas a se juntar. Os homens que tinham certeza de não precisar de conselho apareciam silenciosamente ao amanhecer para cavar mais valetas. Todas as noites, Luan marcava o rio com um bordão e registrava como a linha mudava até de manhã. Ele viu que, quando o Barão Varro abria a comporta ao meio dia, grande parte da água desaparecia antes de alcançar os campos mais baixos. "Evapora no calor", explicou a quem quisesse ouvir. "Devíamos pedir liberação à noite, quando o ar está mais frio. Se perde se menos.
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""Pedir?" o padeiro bufou. "Ele só entende força. ""As pessoas entendem muito bem o medo", disse Luan. "Mas o medo evapora mais rápido que a água. Deixa amargura. É melhor entender o que ele quer. "O que o Barão Varro queria, veio a saber se, não era tão simples. Luan subiu até a barragem com um pacote de sapatos para entregar ordens que havia secretamente feito para os guardas. No caminho, encontrou uma garota sentada numa pedra, balanço um pé. A tira da sua sandália tinha se partido. "Você é neta do Barão Varro", disse Luan, sem bisbilhotar, apenas dizendo o que era verdade. A garota olhou desconfiada, depois assentiu. "Orla", disse ela. Ela segurava a sandália como um passarinho derrotado. Luan sentou se ao lado dela e estendeu seu pano. O furador cintilava nas mãos como um peixinho. Ele dobrou uma tira de couro em um laço e costurou na sandália, depois fez uma irmã para combinar com a outra tira. Orla calçou as sandálias e as testou andando em um quadrado cuidadoso. "Você não me cobrou", disse ela. "Você me pagou com sua confiança", respondeu Luan.
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"E com a forma como você conta seus passos. Quantos?""Quarenta", disse Orla, sorrindo apesar de si. "Gosto de medir. ""Então você vai gostar disto. " Luan mostrou seu caderno. "Veja como a linha da água cai quando a comporta abre ao meio dia. O sol dá goles gananciosos. Se seu avô liberasse à noite, poderia vender mais e perder menos. "Orla mordeu o lábio. "Ele acha que todos querem tirar o que ele tem. Desde que minha avó morreu, ele escuta principalmente o eco dos próprios passos. ""Ecos são altos em salões de pedra", disse Luan. "Diga a ele que alguém está sussurrando das colinas. "Orla disse, ao que tudo indica, porque uma semana depois Luan foi convidado ao escritório do Barão, todo de pedra e madeira polida e com um mapa do vale cruzado por linhas vermelhas que pareciam feridas. O Barão Varro era um homem grande, mas a maneira como os ombros pairavam dizia que era ele quem se erguia ali, não a cadeira. Ele avaliou as roupas de Luan, seu calço gasto, a linha nos dedos. "Você é o homem que está ensinando meu vale a apanhar neblina", disse o Barão. "Sou o homem que está ensinando seu vale a ensinar se", corrigiu gentilmente Luan. "Redes de névoa funcionam porque cada peça está conectada à outra. É também assim que as cidades funcionam.
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""E como os lucros funcionam, suponho", disse o Barão, seco. "Todo mundo quer que os meus se multipliquem. ""Quero que sua água se multiplique", disse Luan. "Tenho medições que mostram quando a comporta abre à noite, evapora se menos. Também achei um vazamento na carcaça do mecanismo. É pequeno, mas vai se tornar grande no pior momento possível. Posso lhe mostrar?"O Barão estreitou os olhos. Dizia se pouco a ele que havia uma rachadura em sua vida que ele ainda não vira. Luan não tentou preencher o silêncio com mais palavras. Deixou o momento respirar. Na barragem, Luan passou a ponta do dedo pela emenda de aço e sentiu o mais tênue beijo de umidade. Cortou uma tira fina do próprio avental, forrou com couro amolecido e a pressionou no lugar, apertando os parafusos com a calma de quem passou a vida aprendendo quanta pressão as coisas pedem. O vazamento parou. "Você me deu um remendo", disse o Barão, parecendo intrigado. "O que quer em troca?""Um cronograma", respondeu Luan. "Duas horas de liberação depois do anoitecer, uma antes do amanhecer. Uma promessa de que o vale pode guardar a pouca água que captura sem penalidade. E um dia por semana em que a comporta fica fechada para o rio poder correr pelas suas próprias regras e reabastecer o solo. ""Você está pedindo menos na minha planilha", disse o Barão. "Estou pedindo mais água nas nossas vidas", disse Luan.
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"Vai melhorar sua planilha a longo prazo. "O Barão cortou o ar com a mão, um homem cortando mato invisível. "Cresci pobre", disse abruptamente. "O rio inundou no ano em que fiz dez e levou nossa casa. Meu pai olhava para a água como se ela o tivesse traído. Decidi que construiria muros mais altos que a dor. Agora todo mundo me chama de muro. ""Muros têm portões", disse Luan, observando a pele do rio estremecer no vento. "Bons portões fazem bons vizinhos. "Antes que o Barão pudesse responder, a primeira tempestade em meses rolou sobre o cume como um ombro escuro. O céu endireitou se com relâmpagos. Quando a chuva veio, veio voraz como se as nuvens tivessem segurado a respiração tanto quanto as pessoas de San Espera. A barragem sacudiu com o peso súbito. Uma emenda gemeu com um som longo e lancinante, e uma rachadura correu pelo concreto como um coelho. "Para dentro!" gritou o Barão. "Afogamo nos se ela ceder!"Luan balançou a cabeça. "Se a gente conseguir evitar que ela falhe de uma vez, podemos mandar a água para onde ela deve ir. " Virou se para os guardas. "Vão para a cidade. Digam que abram as valetas de escoamento, as swales, os canais quebrados que têm consertado.
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Diga lhes para segurar as águas pequenas e deixar a água grande passar. E digam para acender uma lanterna no telhado quando cada trecho estiver pronto. "Os guardas o encararam e então um deles, com botas que Luan havia costurado, assentiu e saiu correndo. Nas entranhas da barragem, era barulhento e úmido. A rachadura era uma boca aprendendo a gritar. Luan amarrou o cabelo com linha e arrancou mais do avental. Orla apareceu com uma cesta de retalhos de couro, pálida e determinada. "Trouxe sua oficina para cá", disse ela. "Bom", respondeu Luan. "Vamos ensinar este muro a fazer sapatos. " Trabalharam lado a lado, criando uma longa junta em camadas, grossa onde a fenda abria, mais fina onde apertava. O Barão contraia o ombro contra uma roda com a tira de couro de Luan enrolada nela, esforçando se para aliviar a pressão. Por um momento foram apenas corpos, na mesma água e no mesmo medo, fazendo o mesmo esforço. A chuva tamborilou. As mãos de Luan foram cuidadosas. O remendo aguentou. Abriram a comporta uma fração, depois mais um sopro, alimentando a tigela do vale. Lá embaixo, lanternas floresceram em sequência pelas colinas, uma cadeia de sóis pequenos. As novas valetas embalaram a água e a puxaram para as raízes. As redes de névoa envergaram sob o próprio sucesso e as pessoas riram ao espremer nas, molhando o rosto como crianças.
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De manhã, o rio corria alto e marrom, de alegria, mas manteve se na sua fita. A barragem ainda era barragem. A cidade não fora levada embora os campos reluziam como se alguém os tivesse passado a ferro. Pessoas que haviam franzido a testa umas para as outras no dia anterior agora apertavam pães e toalhas nas mãos umas das outras. O Barão Varro ficou na passarela, encharcado, e apertou a mão de Luan. "A planilha vai ficar diferente", disse, mas não havia amargura nela, apenas algo que poderia ser alívio. Mandou uma nota para a praça naquela tarde, carimbada com seu selo e o desenho cuidadoso de um pássaro de Orla no canto. Ela dizia Liberações noturnas começarão no anoitecer. A captação de água do vale é autorizada e incentivada. O terceiro dia da semana é o Dia do Rio. Venha caminhar conosco. Nas semanas que se seguiram, o solo lembrou como ser solo de novo. Sementes incharam. O pátio da escola estendeu lonas para sombra sobre seu pedaço de terra e o transformou num mosaico verde. As crianças aprenderam palavras para coisas que ninguém havia se dado ao trabalho de ensinar antes condensação, infiltração, evapotranspiração e então, mais importante, aprenderam a ouvir o vento e a observar as formigas achar a rota mais alta por um quintal após a chuva. Luan montou uma "Escola da Água" com baldes e frascos e um quadro negro. A primeira regra que escreveu foi Observe. A segunda Compartilhe. A terceira Agradeça. No festival da primeira colheita, as pessoas tentaram fazer discursos sobre heróis.
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O ferreiro pigarreou e pareceu um pouco envergonhado. "Acontece que se pode lutar sem lutar", disse, coçando a cabeça. "É preciso apenas ser mais esperto que o problema. ""E mais gentil", acrescentou o padeiro, entregando a Luan um pão ainda quente demais para segurar. Alguém pôs uma grinalda sobre seus ombros. Luan corou e ajeitou o calço. Olhou ao redor e viu o Barão Varro numa mesa com o mestre de obras cuja irmã ele uma vez multara, ambos rindo de algo que Orla disse enquanto contava sementes em uma tigela. Sentiu algo dentro dele relaxar, um nó se desatar. Mais tarde, quando as lanternas iam baixando e o vale zumbia com a fala suave de gente que passara longo dia trabalhando lado a lado, um garotinho puxou a barra da camisa de Luan. "Você é um herói?" perguntou, olhos arregalados. Luan considerou. Pensou em linhas e couro, em gotas minúsculas que viram poças que viram córregos, em muros e nas pessoas que os construíram e nas pessoas que aprenderam onde colocar portas. "Acho que sou um vizinho", disse. "Vizinhos procuram o que você precisa antes que saiba que precisa. Consertam o que é pequeno para que nunca vire grande. Heróis gritam. Vizinhos escutam. "O menino assentiu, satisfeito, e saiu correndo atrás da luz das lanternas. O vale virou o rosto para as estrelas, e o rio, movendo se como um sussurro pela escuridão, disse obrigado em sua própria língua. De manhã, a linha de seda sobre o beco de Luan estaria novamente pesada de orvalho, e por todo San Espera, copinhos esperariam de bocas abertas, prontos para segurar o invisível.
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Ele é sapateiro e ensina as pessoas a compartilhar.
Ele apanhou o orvalho com corda de seda e potes de bolota.
Ela é a neta do Barão Varro e assistente e amiga de Luan.
À noite e antes do nascer do sol, no período fresco.
Redes de neblina e valetas.
Todos consertaram a represa juntos e desviaram a água.